terça-feira, 19 de abril de 2011

Vipera latastei, Víbora-cornuda

Taxonomia
Reptilia,  Serpentes,  Viperidae.
 
Tipo de ocorrência
Residente.
 
Classificação
VULNERÁVEL  -  VU  (B2ab(i,ii,iii,iv,v))
Fundamentação: Espécie com área de ocupação inferior a 2.000 km2. Apresenta fragmentação elevada e um declínio continuado da sua extensão de ocorrência, área de ocupação, da qualidade dos habitats, do número de localizações e do número de indivíduos maduros.
 
Distribuição
Esta  espécie  ocorre  na  Península  Ibérica  e  Norte  de  África:  Portugal,  Espanha, Marrocos, Argélia e Tunísia (Gasc et al. 1997). 

Em Portugal, distribui-se por todo o território, em núcleos populacionais fragmentados, desde o nível do mar até aos 1.500 m, nas Serras da Estrela e do Gerês (Ferrand de Almeida et al. 2001, Brito & Crespo 2002). A grande maioria das observações desta víbora provém das zonas montanhosas a norte do rio Tejo (serras do Gerês, Alvão, Montesinho e Estrela) (Godinho et al. 1999). A sul do rio Tejo e nas áreas de maior pressão humana, ocorre em populações isoladas de pequenas dimensões (S.  Mamede,  Contenda  e  Aljezur).
 
População
A  víbora-cornuda  é  considerada,  desde  há  20  anos,  como  uma  espécie  com efectivos populacionais escassos em toda a sua área de distribuição na Península Ibérica  (Saint-Girons  1980).

Vários  autores  detectaram  um  declínio  nos  efectivos  populacionais  ibéricos  da espécie  em  áreas  onde  era  frequente  (Barbadillo  et  al. 1999, Brito  et  al. 2001), particularmente  nas  zonas  com  elevada  utilização  humana  do  litoral  atlântico  e mediterrânico  (Pleguezuelos  &  Santos  2002).

Habitat
Esta espécie encontra-se em zonas rochosas de montanha, preferindo as encostas declivosas  com  matos  densos  (Ferrand  de  Almeida  et  al.  2001,  Brito  &  Crespo 2002, Brito 2003a). Também ocorre em áreas florestais com cobertura arbustiva. Nas zonas mais baixas e litorais ocorre em matagais, pinhais arenosos e sistemas dunares (Ferrand de Almeida et al. 2001).

Factores de Ameaça
O principal factor de ameaça é a perda, fragmentação e degradação do habitat por  acção  antropogénica  devido  fundamentalmente  a:  (i)  incêndios  florestais;  (ii) silvicultura intensiva; (iii) aproveitamento dos solos para fins agrícolas; (iv) desenvolvimento urbano e implantação de infra-estruturas viárias.

Constituem também factores de ameaça, com efeitos consideráveis, a mortalidade por  atropelamento  nas  estradas  e  a  perseguição  directa  em  virtude  de  aversão (Parellada  1995,  Pleguezuelos  &  Santos  1997,  2002,  Galán  1999,  Brito  et  al. 2001, Brito & Álvares 2004).

Um  outro  factor  de  ameaça  é  a  captura  de  exemplares  para  comércio  ilegal  e coleccionismo. De acordo com vários inquéritos a habitantes do Parque Nacional da Peneda-Gerês (Brito et al. 2001), esta espécie é frequentemente capturada e as suas cabeças comercializadas sob a forma de amuletos e como medicamentos.

Esta crença existe pelo menos desde a Idade Média e os relatos mais antigos de comércio datam da década de 30 do século passado (Bettencourt-Ferreira 1935). Nos anos 70 e 80 vendiam-se em média cerca de 500 víboras por ano no Gerês. Actualmente, com o aumento da fiscalização, o comércio diminuiu mas não desapareceu totalmente, sendo hoje feito de forma clandestina, estimando-se que sejam  comercializadas  entre  50  a  100  víboras  por  ano,  apenas  nas  Caldas  do Gerês. O comércio de cabeças de víbora não está, no entanto, limitado à serra do Gerês,  ocorrendo  também  em  algumas  serras  do  Norte  e  Centro  de  Portugal (Marão,  Montemuro,  Estrela,  Caramulo,  Aire  e  Candeeiros).

Algumas características biológicas, tais como áreas vitais de pequenas dimensões, elevada especialização ecológica na dieta e na utilização dos habitats, reduzida frequência de reprodução, taxa de crescimento reduzida e maturação sexual tardia (Brito 2003a,b, 2004, Brito & Rebelo 2003), contribuem para a sua vulnerabilidade  a  factores  de  ameaça.
 
Medidas de Conservação
As  medidas  de  conservação  devem  incidir  na  manutenção  dos  seus  habitats, sendo considerado particularmente importante: (i) empreender acções mais eficazes na prevenção dos incêndios florestais; (ii) conservar as sebes e muros de pedra que delimitam os lameiros e terrenos agrícolas e (iii) conservar as áreas florestais autóctones, incentivando o corte equilibrado de madeiras nas florestas, dado esta prática levar à criação de locais propícios para a termorregulação destes animais e constituir ainda uma medida de prevenção dos incêndios florestais.

São ainda necessárias iniciativas de educação a nível escolar, bem como campanhas de sensibilização do público, no sentido de desmistificar as superstições que a  envolvem.  São  necessárias  também  acções  de  investigação  dirigidas  para  a determinação mais rigorosa da área de distribuição e de efectivos populacionais, principalmente nas regiões litorais e a sul do rio Tejo.
 
Outra bibliografia consultada
Bea & Braña (1997).
in Livro Vermelho dos Vertebrados

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