domingo, 11 de setembro de 2011

Squalius alburnoides, Bordalo

Taxonomia
Actinopterygii,  Cypriniformes,  Cyprinidae.

Tipo de ocorrência
Residente.  Endémica  da  Península  Ibérica.
 
Classificação
VULNERÁVEL  -  VU  (A2bce+3bce+4bce)
Fundamentação: Admite-se que a redução da espécie nos últimos 10 a 12 anos tenha quase atingido 50% do número de indivíduos maduros e prevê-se que possa continuar a verificar-se nos próximos 10 a 12 anos ou em qualquer período com a mesma amplitude que abarque o passado e o futuro. As causas da redução  embora  geralmente compreendidas,  não  são  reversíveis  nem  cessaram.  A avaliação da redução é baseada em dados de abundância, no declínio da qualidade do habitat e também na expansão de espécies não-indígenas.

Distribuição
Tem  uma  distribuição  generalizada  na  zona  meridional  da  Península  Ibérica (Collares-Pereira  1984),  ocorrendo  em  Espanha  nas  bacias  hidrográficas  do Douro, Tejo, Guadiana, Odiel e Guadalquivir (Doadrio 2001a).

Em Portugal ocorre na bacia hidrográfica do Douro e nas bacias a sul desta, com excepção das pequenas bacias do litoral (Collares-Pereira 1984). No Algarve foi detectado recentemente  na  pequena  bacia  hidrográfica  da  ribeira  da  Quarteira (Mesquita  & Coelho  2002).

População
Esta espécie compreende formas de diferentes ploidias (2n, 3n e 4n), pelo que é referida como um complexo, verificando-se que as várias bacias hidrográficas diferem quanto às formas encontradas e às suas proporções. As fêmeas triplóides são  predominantes  na maioria  das  populações  (Collares-Pereira  1985b,  1989, Alves et al. 1997a, Carmona et al. 1997, Martins et al. 1998, Alves et al. 2001b, 2002, Ribeiro et al. 2003). Calcula-se que o número de indivíduos maduros seja superior a 10.000. Apesar desta espécie ser globalmente frequente e abundante, em particular nas bacias hidrográficas do Tejo e Guadiana (Godinho et al. 1997, Pires et al. 1999, Collares-Pereira et al. 2000a, Tiago et al. 2001, Collares-Pereira et al. 2002a), algumas formas são raras e localizadas (Alves et al. 2001b). Os dados  do  número  de  efectivos  desta  espécie  recolhidos  na  bacia hidrográfica  do Guadiana (Collares-Pereira et al. 2000a, Tiago et al. 2001, Collares-Pereira et al. 2002a), para a globalidade das formas, evidencia uma tendência de redução do número  de  indivíduos  maduros  e  também  há  indícios  de  decréscimo  na  bacia hidrográfica do Sado, onde a espécie apresenta uma distribuição pontual. A redução populacional poderá continuar a ocorrer no futuro devido à constante redução e degradação do habitat.

Habitat
Ocorre  preferencialmente  em  rios  e  ribeiras  permanentes  ou  intermitentes,  em cursos de água de reduzida largura e profundidade, com macrófitas emergentes (Godinho et al. 1997, Pires et al. 1999). Ocorre também em albufeiras (Ferreira & Godinho 2002). O estudo de Martins et al. (1998) revelou a existência de segregação  espacial  entre  as diferentes  formas  do  complexo  na  bacia hidrográfica  do Guadiana: os machos diplóides são abundantes em zonas de pequena profundidade, de temperaturas mais elevadas, com substrato de vasa ou areia; as fêmeas diplóides são abundantes em zonas mais profundas, de substrato de maior granulometria; por último, as fêmeas triplóides abundam em zonas com maior velocidade da  corrente  e  elevado  ensombramento.

Factores de Ameaça
Os principais factores de ameaça são a degradação do habitat, provocada sobretudo pela construção de barragens, alteração do regime natural de caudais, captação de água, extracção de inertes, degradação da qualidade da água e também a introdução de espécies não-indígenas (Collares-Pereira et al. 2000a) a qual poderá ter  efeitos  a  nível da  competição,  predação  ou  como  via  de  disseminação  de agentes  patogénicos.  É de  realçar  a  redução  e  degradação  generalizada  do habitat na bacia hidrográfica do Guadiana, resultante da construção de diversas barragens (Odeleite, Enxoé, entre outras) e actualmente pela implementação do Empreendimento de Fins Múltiplos do Alqueva.

Medidas de Conservação
Esta espécie está abrangida pela legislação nacional e internacional de conservação. Vários locais do país foram designados para a lista nacional de sítios ao abrigo da Directiva Habitats devido à sua presença, entre outros valores, mas carecem ainda  de  medidas  de ordenamento  e  gestão  dirigidas  à  espécie.  O  bordalo  foi abrangido  nos  estudos sobre  a  comunidade  piscícola  da  bacia  hidrográfica  do Guadiana  efectuados  no projecto  LIFE-Natureza  dirigido  para  o  saramugo Anaecypris hispanica (Collares-Pereira et al. 2000a) e sobre as medidas de Minimização e Monitorização para o Património Natural da Barragem do Alqueva (Tiago et  al.  2001,  Collares-Pereira  et  al.  2002a). Algumas  acções  de  manutenção  e conservação  do  habitat  (nomeadamente  na melhoria  da  qualidade  da  água  e algum controlo das extracções de inertes) têm sido efectuadas mas necessitam ser  reforçadas.

É necessária a recuperação das zonas mais degradadas e o controlo das espécies não-indígenas, medidas  previstas  no  Plano  de  Bacia  Hidrográfica  do  Guadiana (INAG 1998-2001),  no  Plano  de  Gestão  do  Saramugo  (Collares-Pereira  et  al. 2000b) e no estudo de Minimização e Monitorização para o Património Natural da Barragem do Alqueva (Tiago et al. 2001, Collares-Pereira et al. 2002a). As medidas preconizadas na Directiva-Quadro da Água deverão atingir a melhoria permanente da  qualidade  dos  habitats aquáticos.  Devem  ser  minimizados  os  impactos  de infra-estruturas hidráulicas implantadas ou a implantar, através do restabelecimento da  conectividade  entre  as populações  e  da  manutenção  dos  caudais  mínimos, especialmente durante o período de estiagem. Em particular, devem ser evitadas ou controladas as captações de água durante esta época, nomeadamente nos pegos.  Outras  medidas  necessárias  são  o controlo  da  extracção  de  inertes,  a gestão sustentada da pesca e a melhoria da sua fiscalização e ainda a sensibilização  do  público  para  a  conservação  dos  ecossistemas aquáticos.  É  necessário aumentar os conhecimentos sobre a biologia e ecologia desta espécie, monitorizar os seus efectivos populacionais e as medidas de conservação a implementar.

Notas
Fenómenos de hibridação parecem estar na origem deste complexo, que tem como ancestral materno o escalo do Sul Squalius pyrenaicus (Alves et al. 1997a,b, Carmona et al. 1997). Constitui um dos raros exemplos de vertebrados que apresentam reprodução não sexuada (Alves et al. 1998, 1999, 2001b, 2004, Carmona et al.  1997),  pelo  que apresenta  elevado  valor  científico  (Beukeboom  &  Vrijenhoek 1998, Vrijenhoek 1998).

Outra bibliografia consultada
Collares-Pereira  et  al. (1999c).
in Livro Vermelho dos Vertebrados

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