terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Squalius aradensis, Escalo do Arade

Taxonomia
Actinopterygii, Cypriniformes, Cyprinidae.
 
Tipo de ocorrência
Residente. Endémica do Continente (Bacias do Sudoeste).
 
Classificação
CRITICAMENTE EM PERIGO - CR (B1ab(ii,iii,iv)c(iv))
Fundamentação: Espécie com extensão de ocorrência extremamente reduzida (cerca de 15 km2). Apresenta fragmentação elevada. Admite-se um declínio continuado na área de ocupação, na área, extensão e qualidade do habitat e no número de localizações. Existe ainda uma forte possibilidade de ocorrerem flutuações acentuadas no número de indivíduos maduros.
 
Distribuição
A espécie está restrita a pequenas bacias em Portugal. Ocorre na bacia hidrográfica do Arade, onde se situa o maior núcleo populacional (Coelho  et  al. 1998) e em mais quatro pequenas bacias hidrográficas no Algarve: ribeiras da Quarteira, de Seixe, de Aljezur e do Alvor (Magalhães & Collares-Pereira 1999, Mesquita & Coelho 2002).
 
População
Calcula-se que o número de indivíduos maduros seja superior a 10.000. Apesar de não existirem séries de dados temporais, há indícios da redução da população no passado devido à construção das barragens do Funcho e Arade e à proliferação de espécies não indígenas, uma vez que a espécie está ausente em quase toda a extensão do rio Arade. A construção da barragem de Odelouca e a consequente redução e degradação do habitat resultarão provavelmente na redução acentuada do número de indivíduos maduros que poderá atingir valores até aos 50%. É provável que o escalo do Arade apresente flutuações acentuadas (de magnitude de dez vezes) entre anos hidrológicos extremos, tendo em consideração as flutuações observadas em espécies próximas do ponto de vista evolutivo e ecológico em rios com regimes hidrológicos análogos, nomeadamente o escalo do sul Squalius pyrenaicus na bacia hidrográfica do Guadiana (Collares-Pereira et al. 2000a, Tiago et al. 2001, Collares-Pereira et al. 2002a) e o escalo do Mira S. torgalensis na bacia hidrográfica do Mira (Magalhães 2002).

Habitat
Ocorre preferencialmente em rios e ribeiros intermitentes, com velocidade de corrente moderada e substrato de elevada granulometria (Pires et al. 2004). O escalo do Arade não foi capturado nas albufeiras do Funcho e Arade (COBA 1997).

Factores de Ameaça
A bacia hidrográfica do Arade, onde se localiza o mais importante núcleo populacional da espécie, está muito intervencionada, possuindo duas barragens, Arade e Funcho, que terão causado a perda de uma parte considerável da área de ocupação. Tendo em consideração que está em construção uma terceira, a barragem de Odelouca, prevê-se que a área adequada à espécie venha a registar uma redução drástica. É provável que a ausência da espécie em quase toda a extensão do rio Arade seja uma consequência da construção das barragens, devido à alteração do regime hidrológico natural e à proliferação de espécies não-indígenas (Pires et al. 2004). A introdução destas espécies não-indígenas poderá ter efeitos a nível da competição, predação ou como via de disseminação de agentes patogénicos. Outras causas de degradação do habitat são a extracção de inertes, a captação de água e a degradação da qualidade da água.

Medidas de Conservação
Esta espécie está abrangida pela legislação nacional e internacional de conservação. O escalo do Arade foi incluído nos estudos sobre a ictiofauna dulciaquícola do Sudoeste de Portugal (Magalhães & Collares-Pereira 1999). Para além de medidas gerais de melhoria da qualidade da água, nunca foram implementadas acções dirigidas à conservação desta espécie.

As áreas onde a espécie ainda ocorre deverão ser alvo de medidas urgentes de conservação e recuperação dos habitats aquáticos. A execução das medidas previstas no Plano de Bacia Hidrográfica das ribeiras do Algarve (INAG 2000b) e das medidas preconizadas na Directiva-Quadro da Água deverão atingir a melhoria permanente da qualidade dos habitats aquáticos. Para esta espécie, descrita recentemente, existe alguma informação sobre a sua distribuição actual, morfologia e genética mas quase não existem estudos sobre a sua distribuição passada, biologia e ecologia. É também necessário monitorizar os seus efectivos populacionais e conhecer melhor os mecanismos que actuam na redução de efectivos de modo a poder propor as medidas de conservação mais adequadas. A sensibilização do  público  para  a  conservação  dos  ecossistemas  aquáticos  necessita  também de ser impulsionada.
 in Livro Vermelho dos Vertebrados

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