Seis meses após a fundação da AEP, foi criada pelo Capitão Artur Barros Basto a União dos Adueiros de Portugal (UAP). Segundo a sua biografia 68, este militar havia em 1908 ingressado na Escola Politécnica, optando, um ano mais tarde, pela Escola do Exército, no Curso Geral de Cavalaria e Infantaria. Entre essa data e a implantação da República tomou parte nos movimentos de contestação e subversão em curso e afirmou-se ideologicamente anticlerical e socialista, tendo também sido iniciado e na Respeitável Loja Capitular Montanha do Grande Oriente Lusitano, em 1910.
Republicano convicto, destacou-se nesse mesmo período pelos seus predicados de instrutor castrense.
O alferes concebeu em Outubro de 1913 uma versão particular do boy-scouting, adaptada às características que identificava na juventude portuguesa. De acordo com A Flor de Lis, e sem outra informação que o corrobore, os principais dirigentes que fundaram a UAP teriam entrado em ruptura com os Escoteiros de Portugal pouco depois da criação da associação, preferindo trabalhar com base na adaptação de Barros Basto. Este destacou-se na sociedade do seu tempo não só como fundador dos adueiros, mas sobretudo, alguns anos mais tarde, por aquela que considerou a missão da sua vida, a “obra do resgate” dos cripto-judeus portugueses.
Naquela que se tornou a cidade-sede da associação, o Porto, apresentou-se publicamente a 27 de Abril de 1914, no Teatro Apolo Terrasse, o Grupo Nº 1 de Adueiros. Nascido no seio da Sociedade Nº 17 de Instrução Militar Preparatória, instituição oficializada no início do regime republicano com vista à preparação castrense de todo o mancebo português maior de 10 anos, o Grupo Nº 1 foi com certeza resultante de uma selecção de jovens feita pelo director da sociedade e adaíl-mor dos adueiros, o referido alferes Artur Barros Basto. Segundo o artigo 8º do Decreto Nº 6277, de Dezembro de 1919, o aduarismo não se parecia diferenciar do escotismo, a não ser pela terminologia. A coabitação entre a instrução militar preparatória e o aduarismo permitiu à UAP facilidades logísticas, mas tornou ainda mais difícil a já hesitante aceitação pelos seus pares da AEP. A leitura do órgão oficial da UAP, o Adueiro, lança luz sobre a pertinência das insinuações “aépistas” de heterodoxia escutista: logo no primeiro número constam apelos ao bom patriotismo, cursos de instrução em carreiras de tiro e relembra-se com orgulho o oferecimento da UAP para a prestação de serviços ao Ministro da Guerra, em Abril de 1916. Evidencia-se ao longo de todas as séries d’O Adueiro, Adueiro de Portugal e Adueiro do Sul, uma enorme semelhança com a instrução militar, apenas se entrevendo do método escutista a aplicação de alguns dos aspectos do sistema de patrulhas e sistema de progresso.
Cada grupo adueiro integrava exclusivamente rapazes entre os 13 e os 17 anos, não tendo sido programadas unidades mais jovens ou mais velhas.
Os grupos possuíam alas (similares às divisões da AEP) com o mínimo de três patrulhas, as quais de compunham de quatro jovens (o número aconselhado pelo General Baden-Powell para a constituição de uma patrulha era de cerca de sete rapazes). Este esquema favoreceu o trabalho com um colectivo mais extenso, a dita ala, e não com a unidade-base, a patrulha.
Durante os vinte anos de actividade aduarista, os aspirantes iniciaram-se com a qualidade de adueiro-aprendiz, prestando juramento em feriado nacional, seguiram para provas de adueiro-pronto e atingiram a escala máxima da sua aprendizagem mediante o trabalho para adueiro-perfeito.
Os primeiros dados relativamente a esta associação datam de Julho de 1918, e indicam a existência de nove grupos de adueiros sedeados no Porto. A partir da ausência de Artur Barros Basto, motivada pela incorporação no Corpo Expedicionário Português, Alfredo Augusto da Costa Pereira, Tenente de Infantaria e engenheiro industrial, com o seu adjunto Edmond Gomes da Silva, dirigiram a União. Na capital do país, onde a AEP tinha a sua sede-nacional e prestígio estabelecido ao longo de uma década, os adueiros batiam-se por um reconhecimento social que tardava em chegar, apesar de ter a sua personalidade jurídica três anos. A título de exemplo, queixava-se o grupo Nº 10 de, em Novembro do ano anterior, numa manifestação de apoio ao Chefe de Estado convocada pela Câmara Municipal, não ter a UAP sido oficiada, acusando o vereador Magalhães Peixoto de manifestar para com a associação uma atitude desdenhosa, ao convocar apenas a AEP. A preeminência de acção da UAP no Porto foi incontestada até à chegada do escutismo católico. Por isto, até 1923, o aduarismo compreendeu dois grupos confessionais: o Grupo Nº 2, cujos elementos eram cristãos reformados, com sede na ACM Porto, e o Grupo Nº 15, “estagnado” já no início de 1922, e composto por católicos.
O facto de não ter a UAP integrado a OEP, nem ter sido encontrada a data exacta de dissolução, impossibilita a identificação das causas do fim do aduarismo. O período correspondente ao adaílato-mor geral do Tenente Alfredo Augusto da Costa Pereira, entre 1922 e 1924, seguido do Capitão Emílio Tito Ferreira da Silva Couto 77, de então até 1927, aparentam ter sido os mais dinâmicos. Contavam-se nesse ano 12 grupos, e cada grupo, tendo em conta a estrutura associativa aduarista, podia atingir um efectivo de 100 a 160 rapazes. Assim, por aproximação, poderão ter existido entre 480 e 900 adueiros e adaís, nesse ano. Apontamento memorialista n’ A Flor de Lis refere um número dentro desta estimativa.
in LUSITÂNIA SACRA XVI
A INTRODUÇÃO DO ESCUTISMO EM PORTUGAL
de ANA CLÁUDIA S. D. VICENTE
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