terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Pyrrhocorax pyrrhocorax, Gralha-de-bico-vermelho


Taxonomia
Aves, Passeriformes, Corvidae.

Tipo de ocorrência
Residente.

Classificação
EM PERIGO –- EN (A2c+3c+4c; B2ab(i,ii,iii,iv,v); C2a(i,ii))
Fundamentação: Admite-se que a espécie pode ter sofrido nos últimos 10 anos uma acentuada redução da sua população, com base nas evidências de declínio na área de ocupação e extensão de ocorrência, bem como da redução da área ocupada com pousios; as causas dessa redução populacional são compreendidas e são reversíveis mas não cessaram, admitindo-se que continuem a actuar nos próximos 10 anos. A sua área de ocupação é reduzida (inferior a 500km2); admite-se que a população tenha fragmentação elevada e apresenta declínio continuado da extensão de ocorrência, área de ocupação, área, extensão e/ou qualidade do habitat. A espécie tem população reduzida (menos de 1.000 indivíduos maturos), admitindo-se que não haja subpopulações com mais de 250 indivíduos maturos ou que todos os indivíduos estejam concentrados numa única subpopulação.

Distribuição
A população mundial da gralha-de-bico-vermelho estende-se pela Ásia Central e Europa, com algumas populações isoladas em Marrocos, Algéria e Etiópia (Goodwin 1986, Hagemeijer & Blair 1997). A distribuição desta espécie na Europa é muito fragmentada, estando confinada a áreas montanhosas e costeiras ao longo do Norte do Mediterrâneo, com algumas populações isoladas nas Ilhas Britânicas e na Bretanha Francesa (Cramp & Perrins 1994, Hagemeijer & Blair 1997).

Em Portugal Continental a espécie tem uma distribuição muito fragmentada, ocorrendo provavelmente em apenas cinco núcleos: Costa Sudoeste, Serras de Aire e Candeeiros, Douro Internacional, Alvão e Gerês. (ICN dados não publicados).

População
Estima-se que o efectivo a nível nacional não chega aos 1.000 indivíduos. As estimativas mais recentes sugerem que o núcleo do Gerês contenha cerca de 40 indivíduos (M Pimenta, com. pess.), o do Douro Internacional 100-150 casais (A Monteiro, com. pess.), o do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros cerca de 100 indivíduos (PNSAC Inventário de algares de 2004 dados não publicados), o do Alvão 6 indivíduos (P Travassos, com. pess.); na costa sudoeste, na zona de Sagres, foram contados apenas cerca de 34 indivíduos, em 2005 (F Ildefonso, P Rosa & V Casalinho, com. pess.).

Em Portugal tem-se registado um declínio continuado do número de indivíduos, da área de distribuição e do habitat favorável à ocorrência da gralha-de-bico-vermelho, com uma consequente redução da população, que nas últimas 3 gerações (21 anos) deve ter sido superior a 50%. Nomeadamente, a espécie terá desaparecido da região da Idanha-a-Nova, onde estavam referidos 10 indivíduos para 1986-88 (Farinha 1991) e também do Marão, em meados da década de 90 do século XX (P Travassos, com. pess.). Na Serra de Candeeiros, registou-se um decréscimo de 30% entre 1994 e 2002; nesta área constatou-se o abandono gradual de algumas zonas de alimentação, bem como o abandono de alguns algares para nidificação (Barros 2002). No Gerês, o efectivo populacional tem sofrido também decréscimo, tendo sido estimado em 50-60 indivíduos em finais da década de 90 do século XX (Pimenta & Santarém 1996). No Parque Natural do Douro Internacional registou-se nos últimos anos o desaparecimento de algumas pequenas colónias (A Monteiro, com. pess.). As causas desta redução que afecta a população nacional de gralha-de-bico-vermelho podem não ter cessado e manter-se essa tendência para o futuro próximo.

Em termos de estatuto de ameaça a nível da Europa, a espécie é considerada Em Declínio, apresentando um declínio continuado moderado (BirdLife International 2004).

Durante os últimos 100 anos, a gralha-de-bico-vermelho sofreu uma forte regressão em grande parte da sua área de distribuição europeia (Goodwin 1986). A maioria das populações actualmente existentes na Europa são pequenas, encontram-se isoladas e em declínio acentuado (Tucker & Heath 1994).

Habitat
Em Portugal, a gralha-de-bico-vermelho nidifica isoladamente ou por vezes em colónias algo dispersas. Os locais escolhidos para nidificação podem ser  fendas e buracos, situados em furnas marítimas ou escarpas inacessíveis, tanto costeiras como de montanha, ou em algares de maciços calcários. Quando não existem formações naturais adequadas, podem ocupar construções humanas (por exemplo: minas abandonadas, velhas habitações). Os locais escolhidos são normalmente aqueles que estão sujeitos a fraca pressão humana (Rufino 1989).

Como principais áreas de alimentação, a gralha-de-bico-vermelho selecciona sistemas agrícolas extensivos, áreas tradicionalmente utilizadas como pastagens e outros habitats semi-naturais com abundantes espaços abertos (Farinha 1991). Durante a época de nidificação as aves reprodutoras utilizam uma área de alimentação próxima do ninho, que pode ser partilhada por mais do que um casal (Farinha 1991). À medida que a nidificação se desenvolve, a área de alimentação vai sendo progressivamente alargada, podendo mesmo sobrepor-se às áreas utilizadas durante todo o ano pelos bandos de indivíduos não reprodutores (Farinha 1991).

Utilizam dormitórios que se localizam em grutas, algares, furnas marítimas ou escarpas, podendo surgir na mesma área vários dormitórios dispersos (Farinha 1991). Os locais utilizados como dormitórios podem também servir como locais de refúgio e são geralmente muito importantes na defesa contra predadores e no estabelecimento de relações entre os  indivíduos.

Factores de Ameaça
O abandono agrícola e do pastoreio extensivo, com consequente evolução natural dos matos, bem como o sobrepastoreio e a intensificação da agricultura, têm-se traduzido em perda e degradação do habitat de alimentação desta espécie. A intensificação turística, quer do litoral português quer do interior serrano, tem conduzido também à perda e degradação de habitat e ao aumento da perturbação humana; particularmente, a espécie é vulnerável à perturbação nos locais de nidificação e dormitórios como resultado do incremento da prática de montanhismo, espeleologia e actividades de todo-o-terreno, que se tem verificado nos últimos anos. O aumento da utilização de agro-químicos afecta também a gralha-de-bico-vermelho, quer directamente, aumentando a mortalidade da espécie e reduzindo a sua capacidade reprodutiva quer indirectamente, diminuindo as populações presa.

Medidas de Conservação
A gralha-de-bico-vermelho ocorre nas Zonas de Protecção Especial da Serra do Gerês, da Costa Sudoeste e do Douro Internacional e Vale do Águeda, no Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros e no Parque Natural do Alvão.

A conservação desta espécie requer a manutenção de áreas de pastagens extensivas para o pastoreio de gado, com condicionamento do encabeçamento. Requer também a preservação do mosaico agrícola e o incentivo do uso racional de produtos químicos na produção agrícola. Deve ser assegurada protecção dos locais de nidificação e dos dormitórios, condicionando os acessos e a prática de actividades turísticas e desportivas em áreas costeiras e montanhosas importantes para a espécie. A classificação e protecção de algares, prevista na revisão do Plano de Ordenamento do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros, poderá inverter a tendência regressiva desta espécie nessa área. Devem ainda ser providenciados locais de nidificação artificiais em habitats adequados.

Deve ser efectuada a monitorização de parâmetros populacionais da espécie, que permita avaliar as tendências na distribuição e abundância.

in Livro Vermelho dos Vertebrados


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