terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Pyrrhula murina, Priôlo


Taxonomia
Aves; Passeriformes; Fringillidae.

Tipo de ocorrência
Residente. Endémico dos Açores.

Classificação
CRITICAMENTE EM PERIGO -– CR (B1ab(iii,v)+2ab(iii,v); C1+2a(ii))
Fundamentação: Espécie dependente da floresta natural de altitude, com extensão de ocorrência e a área de ocupação extremamente reduzidas (inferiores a 100 km2 e 10 km2 respectivamente). Ocorre apenas numa localização e tem apresentado declínio continuado da área, extensão e qualidade do seu habitat. A população, estimada em cerca de 235 indivíduos, evidencia declínio continuado do número de indivíduos maturos, que foi superior a 25% em 3 anos, estando todos os indivíduos concentrados numa única subpopulação.

Distribuição
Esta espécie é endémica dos Açores e encontra-se confinada à zona Oriental da Ilha de São Miguel. A população ocorre em zonas de altitude entre 300-700 m, na Serra da Tronqueira, Pico Bartolomeu e encostas acima da Algarvia (costa norte) e Povoação (costa sul). Têm ainda sido observados juvenis, com regularidade, na zona do Salto do Cavalo (Furnas) (Ramos 1996a).

População
Segundo crónicas históricas a espécie foi abundante no século XIX tendo-se tornado rara a partir de 1920 (BirdLife International 2000). A população reprodutora tem sido alvo de monitorização contínua desde 1989, tendo sido estimada em 238 e 235 indivíduos maturos respectivamente em 2002 e em 2003 (Farragolo & Nunes 2003).

É uma espécie globalmente classificada como Em Perigo (EN) (IUCN 2004a); a nível da Europa é considerada Em Perigo, provisoriamente, uma vez que não existem dados que permitam confirmar a tendência de declínio para o período 1990-2000 (BirdLife International  2004).

Habitat
O priolo ocorre preferencialmente na floresta natural de altitude. No entanto, durante a Primavera desloca-se para altitudes mais baixas em busca de alimento. Esta espécie alimenta-se de pelo menos 37 plantas diferentes, das quais 13 são importantes para a sua dieta. Durante a Primavera, quando outros recursos são escassos, os botões florais do azevinho Ilex perado, uma planta nativa e endémica dos Açores, constituem um importante recurso alimentar. No período entre Maio e Novembro, e para além da floresta natural de altitude, a espécie utiliza também as orlas da floresta de produção de Cryptomeria japonica e as orlas das ribeiras (Ramos 1995, 1996b).

Factores de Ameaça
Durante este século a área de distribuição da espécie foi reduzida devido à substituição, em larga escala, de áreas de floresta natural por pastagens e plantações de Cryptomeria japonica. A rápida expansão de plantas não indígenas muito competitivas constitui a ameaça actual mais importante para o priolo. Algumas destas plantas, tais como Hedychium gardneranum, Pittosporum undulatum e Clethra arborea, estão rapidamente a alterar a floresta natural de altitude (Ramos 1996a).

Esta população, dado o seu tamanho reduzido, é ainda vulnerável a factores estocásticos ambientais e demográficos (BirdLife International 2000).

Medidas de Conservação
A área de distribuição da espécie foi designada como Reserva Florestal Natural e como Zona Importante para as Aves (Costa et al. 2003). Esta área foi também designada como Zona de Protecção Especial, estando a ser elaborado o respectivo plano de gestão.

Em 1996 foi publicado um plano de acção para a espécie (Ramos 1996c.) Esta espécie foi ainda alvo de projectos co-financiados pelo programa LIFE “Conservação do Priolo” e “Estudo e Conservação do Património Natural dos Açores”, com vista a aumentar a área de habitat adequado (substituindo em algumas zonas as plantas não-indígenas por plantas endémicas), e a controlar a expansão de plantas não indígenas.

Paralelamente, têm sido desenvolvidas acções de educação ambiental, que incluíram a produção de folhetos e brochuras.

Um vasto programa de investigação sobre a ecologia da espécie (Ramos 1995, 1996a) permitiu definir as acções de conservação prioritárias para o habitat e para a espécie.

Nesse sentido arrancou em 2004 um projecto financiado pelo programa LIFE “Recuperação do habitat do Priolo na ZPE Pico da Vara/Ribeira do Guilherme” que prevê a monitorização da população, o controlo de espécies não indígenas invasoras, a propagação de espécies endémicas, o alargamento da área designada para protecção e a implementação de medidas sectoriais, nomeadamente o incentivo à plantação de pomares com árvores de fruta que desenvolvem botões florais no final do Inverno, que poderão ser consumidos pelo priolo.

in Livro Vermelho dos Vertebrados


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