domingo, 5 de outubro de 2008

Patriotismo e decência


Hoje optei por trazer ao lume um texto da minha mais recente leitura: "Algumas Distracções" de Francisco José Viegas:

"Falar de patriotismo é uma receita segura para obter unanimidades: quem se negará a ser patriota nos momentos difíceis? O apelo do presidente da República a um «patriotismo moderno e democrático» tem água no bico. Em primeiro lugar porque não têm nada a ver com patriotismo. Tem, antes, a ver com decência - porque o que está a fazer falta ao país não é patriotismo, sardinha assada, vitórias da selecção, fado, Camões e Saramago. O que faz falta é, precisamente, decência - na forma como se tratam os juízes, como se tratam os cidadãos, como os titulares dos cargos públicos são responsabilizados pelas suas asneiras e deslizes, como se respeita o ambiente e o território, como se preserva a identidade e a cultura, como se tratam as crianças, como se lida com os números do desemprego, como se protegem os velhos, como se humanizam os hospitais, como se apoiam as famílias, como se impede o Estado de - sempre que pode - desrespeitar os cidadãos, como se corrigem os desvarios das cidades portuguesas, como se reparam as injustiças, como se castiga a corrupção, como se impedem os políticos e os empresários de nunca serem responsabilizados por erros fatais. O patriotismo não tem nada a ver com isso. O patriotismo não vale nada ao pé disto. Em vez de patriotismo moderno, o presidente devia ter pedido decência. Exactamente isto, que é tão simples e tão mais moderno e útil para os portugueses - além de estar à vista de toda a gente, faltando apenas que alguém o diga com uma clareza insuspeita. Ser patriota num país mal frequentado não é vantagem nenhuma. Pelo contrário. 16.6.03"

Passados mais de cinco anos, será que este texto deixou de ter razão de ser? Infelizmente não!

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