terça-feira, 9 de novembro de 2010

Barbus microcephalus, Barbo-de-cabeça-pequena

Taxonomia
Actinopterygii,  Cypriniformes,  Cyprinidae.

Tipo de ocorrência
Residente.  Endémica  da  Península  Ibérica  (Bacia  do  Guadiana).

Classificação
QUASE AMEAÇADO . NT  (B1b(iii)c(iv)+2b(iii)c(iv))

Fundamentação: Espécie com extensão de ocorrência e área de ocupação com valores aproximados de 150 km2 e 120 km2, respectivamente. Admite-se um declínio continuado na área, extensão e qualidade do habitat. Poderão ainda ocorrer flutuações acentuadas no número de indivíduos maduros.

Distribuição
Ocorre na bacia hidrográfica do Guadiana em Portugal e Espanha (Doadrio 2001a). 


Em  Portugal  tem  uma  distribuição  generalizada  tanto  no  rio  principal  como  na maioria das sub-bacias (Collares-Pereira et al. 2000a, Tiago et al. 2001, Collares-Pereira  et  al. 2002a).

População
Calcula-se que o número de indivíduos maduros seja superior a 10.000, havendo a  possibilidade  de  ter  sofrido  uma  redução  inferior  a  30%  nos  últimos  19  a  21 anos.  Os  efectivos  populacionais  desta  espécie  (Collares-Pereira  et  al.  2000a, Tiago et al. 2001, Collares-Pereira et al. 2002a) registaram uma flutuação de magnitude de três vezes, pelo que, devido às características da bacia hidrográfica do Guadiana, há a possibilidade de ocorrerem flutuações acentuadas (de magnitude superior a dez vezes) no número de indivíduos maduros, entre anos hidrológicos extremos. Apesar desta espécie ocorrer em albufeiras (Ferreira & Godinho 2002), poderá verificar-se um declínio continuado do número de indivíduos maduros devido à redução ou degradação do habitat resultante da implementação do Empreendimento de Fins Múltiplos do Alqueva.

Habitat
Ocorre preferencialmente em rios e ribeiras permanentes ou intermitentes (Filipe et al. 2002) podendo também ser encontrado em albufeiras (Ferreira & Godinho 2002, Almaça 2003). Trata-se de uma espécie com preferência pelos cursos médios e inferiores, mais estáveis (Pires et al. 1999, Filipe et al. 2002, Almaça 2003).
Supõe-se que esta espécie efectue migrações sazonais, tal como o barbo do Sul B. sclateri (Rodriguez-Ruiz & Granado-Lorencio 1992). Para desovar necessita de águas com alguma velocidade de corrente, substrato de cascalho e ausência de ensombramento (Costa  et  al. 1988).

Factores de Ameaça
Os principais factores de ameaça são a degradação do habitat, provocada sobretudo pela construção de barragens, alteração do regime natural de caudais, captação de água, extracção de inertes, degradação da qualidade da água e também a introdução de espécies não- indígenas (Collares-Pereira et al. 2000a) a qual poderá ter  efeitos  a  nível  da  competição,  predação  ou  como  via  de  disseminação  de agentes patogénicos. É de realçar a redução e degradação generalizada do habitat  na  bacia  hidrográfica  do  Guadiana,  resultante  da  construção  de  diversas barragens (Odeleite, Enxoé, entre outras) e actualmente pela implementação do Empreendimento de Fins Múltiplos do Alqueva

Medidas de Conservação
Esta espécie está abrangida pela legislação nacional e internacional de conservação. O Barbo-de-cabeça-pequena foi ainda abrangido nos estudos sobre a comunidade piscícola da Bacia Hidrográfica do Guadiana efectuados no projecto LIFE-Natureza  dirigido  para  o  saramugo  Anaecypris  hispanica  (Collares-Pereira et  al. 2000a)  e  sobre  as  medidas  de  Minimização  e  Monitorização  para  o  Património Natural da Barragem do Alqueva (Tiago et al. 2001, Collares-Pereira et al. 2002a). Algumas  acções  de  manutenção  e  conservação  do  habitat  (nomeadamente  na melhoria da qualidade da água e algum controlo das extracções de inertes) têm sido efectuadas mas necessitam de ser reforçadas.

É necessária a recuperação das zonas mais degradadas e o controlo das espécies não-indígenas,  medidas  previstas  no  Plano  de  Bacia  Hidrográfica  do  Guadiana (INAG 1998), no Plano de Gestão do Saramugo (Collares-Pereira et al. 2000b) e no estudo de Minimização e Monitorização para o Património Natural da Barragem do Alqueva (Tiago et al. 2001, Collares-Pereira et al. 2002a). As medidas preconizadas na Directiva-Quadro da Água deverão atingir a melhoria permanente da qualidade dos habitats aquáticos. Devem ser minimizados os impactos de infra-estruturas hidráulicas implantadas ou a implantar, através do restabelecimento da conectividade entre as populações e da manutenção dos caudais mínimos, especialmente durante a época estival. Em particular, devem ser evitadas ou controladas as captações de água durante esta época, nomeadamente nos pegos. Outras medidas necessárias são o controlo da extracção de inertes, a gestão sustentada da pesca  e  a  melhoria  da  sua  fiscalização  e  ainda  a  sensibilização  do  público  para  a conservação dos ecossistemas aquáticos. É necessário aumentar os conhecimentos sobre a biologia e ecologia desta espécie, monitorizar os seus efectivos populacionais  e  a  eficiência  das  medidas  de  conservação  a  implementar.

Notas
A identificação específica de alguns indivíduos deste género é por vezes dificultada por fenótipos intermédios que poderão ser resultantes de hibridação.

Outra bibliografia consultada
Almaça (1967, 1984); Kottelat (1997); Santos et al. (2000); Pires et al. (2001).

in Livro Vermelho dos Vertebrados

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