De forma sumária, foram averiguados os contornos actuais do escutismo português, com o objectivo de identificar o ponto inicial de introdução do instrumento educativo. São hoje seis as formas de prática escutista institucionalizadas: a Associação dos Escoteiros de Portugal (AEP); o Corpo Nacional de Escutas (CNE); a Associação Guias de Portugal (AGP); a Associação das Guias e Escuteiros da Europa-Portugal (AGEEP); o Clube de Desbravadores (CD); e os Royal Rangers-Portugal (RR). Dentre estas, as primeiras três são reconhecidas pelas organizações internacionais reguladoras 29 do escutismo, a seguinte reclama-se independente destas, e as duas restantes apenas afirmam inspiração ou afinidade com o método criado por Robert Baden-Powell. Verificou-se também que a AEP, CNE e AGP (bem como a entretanto extinta União dos Adueiros de Portugal) foram as instituições matriciais do escutismo em Portugal, respectivamente com noventa, oitenta e setenta e sete anos já celebrados.
O escutismo tem sido praticado em território português, sem interrupção, desde 1911 até à actualidade. Tal fenómeno desenvolveu-se, propomos, em três tempos: o de implantação, entre 1911 e 1942; o de enraízamento, entre 1942 e 1970; e o de consolidação, entre 1970 e o momento presente.
O faseamento sugerido encontra-se estreitamente ligado ao condicionamento estatal desde muito cedo exercido sobre as associações existentes.
O primeiro período decorre desde a primeira experiência de boy scouting, desenvolvida informalmente por Álvaro de Melo Machado, em Macau, em 1911, até à dissolução ou submissão das instituições praticantes à tutela do Estado, mais precisamente da Organização Nacional Mocidade Portuguesa, (expressa no Decreto-Lei nº 31908 de 9 de Março de 1942), caracterizando-se pela introdução e adaptação do método escutista à realidade nacional. A segunda fase foi a do difícil e lento desenvolvimento do escutismo na dependência da organização estatal de juventude, cuja frequência obrigatória foi, entre 1966 e 1970 (com as reformas dos Ministros da Educação Galvão Teles e Veiga Simão), substituída pela participação opcional no escutismo, primeiro, e pela frequência voluntária, depois, até à extinção da organização, ocorrida em 1974.
Apesar do condicionamento derivado da drástica diminuição de dirigentes escuteiros, no contexto de mobilização militar para o combate nas possessões coloniais, foi nesta etapa que o guidismo foi reactivado (1954) e a prática escutista se enraizou em todo o território. O último momento, iniciado em 1970, corresponde a um período de democratização das estruturas directivas das instituições escutistas, de implementação de princípios co-educativos na AEP e CNE, e do aumento exponencial do efectivo em todas as associações existentes, em particular no CNE.
Descoberta a multiplicidade de instituições existentes e a extensão temporal do fenómeno, optou-se pelo tratamento global da sua fase inicial.
A análise que se segue coincide com a da dissertação em elaboração já referida, e como esta respeita apenas ao período compreendido entre 1911 e 1942, de efectiva introdução do escutismo em Portugal. A esta pertencem apenas a AEP, CNE, AGP e UAP.
in LUSITÂNIA SACRA XVI
A INTRODUÇÃO DO ESCUTISMO EM PORTUGAL
de ANA CLÁUDIA S. D. VICENTE
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