terça-feira, 15 de novembro de 2011

Um Outro Escutismo Português

Fora desse espectro de análise ficaram a AGEEP, o CD e os RR, por corresponderem a desenvolvimentos bastante mais recentes. Ainda assim – a título de registo sumário e como pista para novos trabalhos – considerámos relevante aqui fazer a sua apresentação. Fundada em 1979, a AGEEP tornou-se uma das associações pertencentes à Union Internationale des Guides et Scouts d’Éurope (anteriormente designada Fédération de Scouts d’Europe), ou UIGSE, nascida do encontro de elementos regionalistas, pacifistas e católicos conservadores, sob a bandeira comum do pró-europeísmo.

A UIGSE compôs-se dos Scouts de Bleimor, bretões fixados em Paris, organizados em 1945, e dos austríacos e alemães organizados, em 1952, sob a designação de Europa-Scouts, aos quais se associaram, no início de 1963, dissidentes da linha de renovação interna envidada pelos Scouts de France (escutismo católico francês) ocorrida no período posterior ao Concílio Vaticano II 30. Não existem quaisquer dados quantitativos que permitam avaliar a expressão da associação portuguesa, cuja sede nacional foi, até 2001, em Moimenta da Beira 31. Esta define-se como difusora dos valores tradicionais definidos por Robert Baden-Powell, segundo a orientação católica imprimida pelo sacerdote francês Jacques Sevin. São valorizados três aspectos fundamentais neste escutismo: a prática dos valores cristãos segundo os preceitos da Igreja Católica; a separação efectiva, em actividades, do sector guidista (feminino) do sector escutista (masculino); a fidelidade a um ideário europeísta, materializado na organização de múltiplas actividades de intercâmbio e reunião.
Numa versão heterodoxa do escutismo, o CD surgiu como fórmula espiritual e recreativa juvenil, criada no seio da Igreja Adventista do Sétimo Dia 32 (IASD), denominação cristã reformada. Após o surgimento das primeiras sociedades para jovens no interior desta igreja, respectivamente no Michigan, em 1879, e no Wisconsin, em 1881, foi reorganizada a actividade juvenil pela sua estrutura central, na forma de escola sabatina, em 1901. Um Departamento de Jovens foi aprovado em 1907 pelo Conselho da sua Conferêcia Geral, e criado novo enquadramento, designado Young People’s Society of Missionary Volunteers. No seio desta sociedade, conhecida por MV, foram elaboradas classes progressivas e preparado um corpo dirigente juvenil específico. No pós-Grande Guerra, no âmbito do desenvolvimento do programa júnior, o conjunto de actividades desta denominação foi claramente influenciado pelo escutismo, em franca expansão mundial, e particularmente nos Estados Unidos da América, palco fundador do adventismo. Tal facto derivou da incompatibilidade entre o desejo de participação dos jovens crentes no tipo de actividades proporcionadas pelo escutismo e a particularidade dos seus preceitos religiosos.

A observância do sábado, o vegetarianismo, a cadência diária de orações ou a restrição a certas formas de entretenimento, determinou a criação de grupos adventistas com actividades adaptadas e em tudo similares ao método escutista. Foram formulados os primeiros Pathfinders Clubs na década de vinte, na Califórnia, sendo, em 1928, obtida pelo Departamento dos Jovens da Conferência Geral autorização da entidade escutista internacional para o uso da sua metodologia e materiais didácticos. 

O primeiro CD permanente foi organizado também na Califórnia, em 1937. Em 1949, os desbravadores adventistas foram convidados a integrar os Boy Scouts of America, federação nacional do escutismo, mas tal proposta foi declinada em favor da conservação da prática singular do CD, destinada a jovens de ambos os sexos e alargada a todas as Igrejas e missões da IASD, a partir do ano seguinte. Presente em Portugal desde 1904, a IASD desenvolveu,desde 1925, de forma ininterrupta, a sua actividade junto dos jovens crentes nacionais. Existe, contudo, uma primeira notícia respeitante ao movimento juvenil adventista português, com data de 1908 33. Usadas as classes progressivas da MV, apenas desde Novembro de 1970 o CD se tornou fórmula de dinamização aplicada aos jovens adventistas portugueses. O primeiro grupo foi fundado na Igreja Central de Lisboa, seguido de outros em Oliveira do Douro (1975), Avintes (1976), Canelas (1976), Funchal (1977) e Amadora (1978). Não foi possível apurar, tal como no caso da AGEEP, o número actual de jovens desbravadores portugueses.
Por último, surgiram nos Estado Unidos da América, em Outubro de 1962, os RR 34. Num processo em tudo semelhante ao anteriormente descrito, John Barnes fundou em Springfield, Missouri, por determinação do Corpo Executivo das Assembleias de Deus, uma versão do escutismo adaptada às intenções formativas de denominação evangélica. Os RR definem-se como ministério juvenil de serviço religioso, com inspiração no método de Baden-Powell, visando a formação integral do jovem do sexo masculino.

Em Portugal, e após contactos com o Coordenador Evangélico dos Royal Rangers para a Região da Eurásia (Hanspeter Neck), Manuel Silva fundou o Posto nº 1 português, a 21 de Março de 1993. Tal posto tem sede na localidade do Livramento (freguesia da Azueira, concelho de Mafra), não tendo sido possível apurar o número exacto de elementos efectivos.
in LUSITÂNIA SACRA XVI
A INTRODUÇÃO DO ESCUTISMO EM PORTUGAL
 de ANA CLÁUDIA S. D. VICENTE

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