quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Neophron percnopterus, Britango, Abutre do Egipto

Taxonomia
Aves, Accipitriformes, Accipitridae.
 
Tipo de ocorrência
Estival nidificante.
 
Classificação
EM PERIGO - EN  (C2a(i);  D)
Fundamentação: Espécie com população muito reduzida (c. 83 casais) e em declínio continuado.
 
Distribuição
Na Eurásia a população reprodutora da espécie distribui-se na área circum-mediterrânea, Médio Oriente, centro da Ásia e Índia (Cramp & Simmons 1980, del Hoyo et al. 1994). A maioria das populações são migratórias movendo-se para sul no Inverno, principalmente para a zona do Sahel em África, mas as aves do Sul de Espanha, Palma de Maiorca e das Ilhas Canárias são residentes (Tucker & Heath 1994).

Em Portugal era outrora comum e bem distribuído por todo o país, frequentando inclusivamente escarpas em regiões costeiras (D. Carlos de Bragança (inéditos), Tait 1924, Reis Júnior 1931, Coverley 1945). Sofreu uma regressão acentuada durante o século XIX,  encontrando-se  actualmente  apenas  na  franja  fronteiriça  do  Centro  e  Nordeste, tendo-se extinguido recentemente na bacia do Guadiana (Rufino 1989, Rosa et al. 1999, Pacheco 2002).

População

Em 2000 realizou-se o segundo censo nacional (primeiro censo ibérico, coordenado entre  os  dois  países),  que  contabilizou  a  população  em  83  a  84  casais  em  território português  (120  a  121  casais  incluindo  as  regiões  fronteiriças  espanholas)  (Monteiro et al. 2002).

O número crescente de indivíduos nas estimativas a nível nacional até 1997 (cf. Palma 1985, Rufino et al. 1985, Palma et al. 1999a, Monteiro et al. 1996, Rosa et al. 1999), é atribuído exclusivamente ao aumento da cobertura e intensidade do esforço de amostragem (Monteiro et al. 2002).

O britango tem sofrido globalmente um declínio continuado, com abandono progressivo dos territórios no Sudeste Alentejano - 4 a 7 casais em 1994, tendo-se extinguido em 1996 - e uma redução acentuada nas bacias hidrográfica dos rios Sabor e Tejo (abandono de sete territórios, desde os anos 80, no Sabor e cerca de 10 territórios, entre 1990 e 2000, no Tejo (Monteiro et al. 1996, Pacheco et al. 1999, Rosa et al. 1999, Monteiro et al. 2002). No entanto, as áreas onde os núcleos populacionais se encontram com um maior efectivo têm apresentado estabilização do número de casais. Em termos de estatuto de ameaça a nível da Europa, a espécie é considerada Em Perigo, tendo sofrido um acentuado declínio nas três últimas gerações (BirdLife International 2004).

Habitat

O habitat é geralmente constituído por terrenos abertos ou semi-abertos, normalmente na proximidade de zonas rochosas alcantiladas, quer em vales fluviais quer em zonas serranas. Prefere escarpas para nidificar, geralmente em zonas acidentadas, não sendo conhecidos em Portugal ninhos em árvores. Faz o ninho em saliências abrigadas ou em cavidades  em  penhascos.  O  mesmo  ninho  pode  ser  reutilizado  em  anos  sucessivos (Cramp & Simmons 1980, del Hoyo et al. 1994).

Procura alimento em qualquer tipo de terreno, mas principalmente em terras com uso agro-pecuário extensivo, áreas não cultivados, matagais e vales alcantilados (Pacheco C e  Monteiro  A  dados  não  publicados).  Segue  os  movimentos  de  manadas  de  gado, procura vazadouros de explorações agrícolas e explora de forma oportunista outros recursos alimentares, nomeadamente captura vítimas de queimadas e frequenta aterros sanitários (Cramp & Simmons 1980, del Hoyo et al. 1994).

Nos últimos anos verifica-se declínio da área de ocupação, extensão de ocorrência e qualidade do habitat, associada sobretudo à redução da disponibilidade de cadáveres de animais e da criação de gado em moldes extensivos.

Factores de Ameaça
Pelo facto do britango ser especializado na detecção de pequenos cadáveres e despojos, a utilização de iscos envenenados é, nalgumas áreas de Espanha, o principal factor de mortalidade não natural (Donázar 2003).

O incremento das exigências higieno-sanitárias, nomeadamente a obrigação de enterrar os cadáveres, conduz a uma redução da disponibilidade trófica que poderá vir a ter efeitos significativos num futuro próximo. Outros factores de redução da disponibilidade alimentar são a diminuição da pecuário extensiva, bem como a modernização agrícola com consequente decréscimo dos animais de carga e tracção. Por outro lado, a rarefacção das  populações  de  coelho-bravo  Oryctolagus  cuniculus  provocado  pelas  epizootias, também parece contribuir para uma redução significativa da disponibilidade trófica. 

A perturbação humana em zonas de nidificação e durante os períodos mais sensíveis, provocada  por  actividades  agro-silvícolas,  cinegéticas,  turismo  e  lazer,  conduz  a  um abaixamento da produtividade da população, ou mesmo ao abandono de alguns locais de nidificação. A abertura indiscriminada de caminhos é também uma ameaça preocupante, dado que potencia os efeitos da perturbação, tornando acessíveis locais de nidificação remotos.

A colisão e electrocussão em linhas aéreas de distribuição e transporte de energia são também factores preocupantes, uma vez que espécie utiliza frequentemente apoios eléctricos como poiso de caça e dormitório.

O abate a tiro constituiu num passado recente um importante factor de mortalidade.

A degradação dos habitats de nidificação e/ou alimentação, devido à construção de infra-estruturas (barragens, parques eólicos, estradas), florestação para produção lenhosa, intensificação agrícola e actividade de extracção de inertes, está seguramente a contribuir para o declínio da espécie.

Medidas de Conservação

A conservação desta espécie passa pela implementação das seguintes acções:
  • criação e gestão de campos de alimentação para aves necrófagas;
  • promover a manutenção do mosaico agro-florestal através de aplicação de programas de Medidas Agro-Ambientais nos principais núcleos da espécie, que minimizem a degradação do habitat e promovam a pecuária extensiva;
  • promover uma correcta gestão da caça maior através do estabelecimento de protocolos e implementação de manuais de gestão ambiental;
  • elaborar  e  implementar  planos  de  gestão  nas  ZPE’s  mais  importantes  para  a espécie;
  • proibir ou condicionar a instalação de traçados eléctricos, parques eólicos, estradas, albufeiras e outras infra-estruturas nas zonas importantes para espécie (nidificação, invernada/dispersão);
  • corrigir e sinalizar traçados e apoios da rede de distribuição de electricidade que sejam muito perigosos para a espécie e monitorizar o impacte das linhas eléctricas de transporte de energia sobre os núcleos mais importantes da espécie;
  • interditar/condicionar as actividades recreativas e o turismo nas áreas de maior sensibilidade para a espécie;
  • programa nacional de erradicação do uso de venenos e aumento da eficácia dos meios e esforços de fiscalização e vigilância nas áreas de nidificação durante os períodos mais sensíveis;
  • campanha nacional de sensibilização e educação ambiental da população rural relativamente às aves de rapina;
  • implementação  de  sistemas  eficazes  de  monitorização  da  população  nas  áreas problemáticas e/ou especialmente importantes para a população nacional;
  • desenvolvimento de programas transfronteiriços de colaboração para conservação e estudo da espécie.
 in Livro Vermelho dos Vertebrados

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