quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Lynx pardinus, Lince-ibérico

Taxonomia
Mammalia, Carnivora, Felidae.

Tipo de ocorrência
Residente. Endémica da Península Ibérica.

Classificação
CRITICAMENTE EM PERIGO - CR (A2c+3c+4c; C2a(ii); D)
Fundamentação: A espécie teve uma redução do tamanho da população que pode ter atingido 80% nos últimos 15 a 27 anos, de acordo com a avaliação do declínio da sua área de ocupação, extensão de ocorrência e qualidade do habitat por causas que podem não ter cessado, não ser compreendidas ou não ser reversíveis, e que se supõe persistir e prolongar-se no futuro; população extremamente reduzida e com declínio continuado; admite-se que nos últimos 15 anos 90% dos indivíduos se encontrassem numa das subpopulações.

Distribuição
Até meados do século XIX, a área de distribuição do lince-ibérico cobria praticamente toda a Península Ibérica (Cabrera 1914, Kratochvíl 1968, Delibes 1979, Palma 1980, Rodríguez & Delibes 1992). Na década de 1980, a espécie apresentava uma distribuição localizada na zona Central e Sudoeste da Península Ibérica (Rodríguez & Delibes 1992). Estima-se que, entre 1960 e 1990, houve uma regressão de cerca de 80% na área de distribuição, tendência essa que parece manter-se. Actualmente, a distribuição do lince-ibérico em Espanha pode estar restrita a Doñana e Andújar-Cardeña - duas áreas onde existem populações reprodutoras - e às regiões de Montes de Toledo Oriental, Sistema Central Ocidental e algumas áreas da Sierra Morena (Guzmán et al. 2002).

A distribuição em Portugal, aferida a partir de dados relativos a 1987-1996, apresentava-se fragmentada, definindo-se cinco principais áreas de ocorrência: Malcata, S. Mamede, Vale do Guadiana, Vale do Sado e Algarve-Odemira. A presença da espécie foi ainda registada em Mira, Montesinho, Serra de Ossa e Gerês (Ceia et al. 1998). Sarmento et al. (2004) apontam para um declínio continuado na área de ocupação.

População
Em 1996, o tamanho populacional muito diminuto foi calculado em menos de 40 indivíduos, fragmentados em pequenas subpopulações. No entanto, nos últimos anos, apesar de terem sido feitos esforços de prospecção local e monitorização nacional, não há evidência de animais residentes (Pinto 2000, Sarmento & Cruz 2000, Fernandes et al. 2001, ICN 2002). Mais recentemente, existem indicações de presença de animais em território português (Fernandes et al. 2001, Pires & Fernandes 2003, Santos-Reis 2003). Apesar disso, considera-se que o cenário actual deverá ser de pré-extinção (Sarmento et al. 2004).

Habitat
O lince-ibérico selecciona bosque, matagais e matos densos de características mediterrânicas (Palomares et al. 1991, Beltrán et al. 1992, Castro 1994, Monteiro 1998, Palma et al. 1999, utilizando preferencialmente estruturas em mosaico, com biótopos fechados para abrigo e outros abertos para capturar presas (Rodríguez & Delibes 1992). Uma área com linces residentes caracteriza-se, em geral, por uma cobertura arbustiva superior a 40% e uma proporção de matagal entre 60 e 70% do habitat disponível (Palomares 2001). Os linces parecem evitar habitats artificializados, nomeadamente plantações florestais e campos agrícolas extensos, mas estes habitats podem ser utilizados na fase de dispersão (Palomares 2001).

Factores de Ameaça
As principais ameaças que têm afectado as populações de lince-ibérico são: a redução e a fragmentação da área de habitat favorável, a regressão das populações de coelho-bravo Oryctolagus cuniculus e a mortalidade não natural. Os factores estocásticos terão tido também um papel determinante nas populações pequenas e isoladas.

Desde a década de 1970, a instalação de grandes manchas de floresta de produção reduziram de forma significativa as áreas onde o lince-ibérico encontrava refúgio. Posteriormente, também a implantação de infra-estruturas como as barragens e a rede viária, transformaram áreas de habitat favorável em zonas de reduzida adequabilidade para a espécie.

O lince-ibérico é vulnerável ao atropelamento, em particular durante movimentos dispersivos. O abate ilegal por tiro e com recurso a armadilhas foi outra causa importante de mortalidade. A espécie poderá ainda estar a ser afectada por patologias e problemas de fertilidade.

Medidas de Conservação
Medidas de conservação específicas para a espécie estão previstas em vários documentos elaborados na última década. À escala global, e por recomendação do Comité Permanente da Convenção de Berna, foi adoptado o "Plano de Acção Europeu para a Conservação do lince-ibérico" (Delibes et al. 2000). Em Espanha, foi publicada em 1999 pela Comision Nacional de Protección de la Naturaleza, a "Estratégia para la Conservación del Lince Ibérico en España" e em 2001 foi aprovado um plano de reprodução em cativeiro. Em Portugal, o Plano de Acção para a Conservação do lince-ibérico (ICN 2003) prevê acções preparatórias para a reintrodução da espécie. Estas acções baseiam-se na recuperação dos habitats e do coelho-bravo, na protecção específica da espécie (incluindo criação de legislação específica), na investigação, monitorização e reintrodução da espécie, e na divulgação e educação ambiental. Algumas destas medidas estão a ser implementadas na Reserva Natural da Serra da Malcata, tendo decorrido também um programa de monitorização à escala nacional.

Desde 1999, Portugal participa no Grupo de Trabalho de lince-Ibérico em Espanha, responsável pela implementação da Estratégia de Conservação para a espécie.

Na Reserva Natural da Serra da Malcata prepara-se a estrutura de um centro de acolhimento de linces a ser integrado no Programa Ibérico de Reprodução em Cativeiro.

 in Livro Vermelho dos Vertebrados

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